09/06/2020

10  DE JUNHO

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas

2 poemas de Luís Vaz de Camões, pelas  vozes  de Mário Viegas e Rui Reininho.


Erros meus, má fortuna, amor ardente
em minha perdição se conjuraram;
os erros e a fortuna sobejaram,
que para mim bastava o amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
a grande dor das cousas que passaram,
que as magoadas iras me ensinaram
a não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
dei causa [a] que a Fortuna castigasse
as minhas mal fundadas esperanças.


                                                                                                        De amor não vi senão breves enganos.
                                                                                           Oh! Quem tanto pudesse que fartasse
                                                                                     este meu duro génio de vinganças!








O POEMA 

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
 Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança, 
Tomando sempre novas qualidades. 

Continuamente vemos novidades, 
Diferentes em tudo da esperança: 
Do mal ficam as mágoas na lembrança, 
E do bem (se algum houve) as saudades. 

O tempo cobre o chão de verde manto,
 Que já coberto foi de neve fria,
 E em mim converte em choro o doce canto.

 E afora este mudar-se cada dia,
 Outra mudança faz de mor espanto,
 Que não se muda já como soía .

Sem comentários: